Atualização sobre a situação da bronquite infecciosa nos Estados Unidos - 2009

Mark W. Jackwood, Ph.D.
College of Veterinary Medicine
University of Georgia
Athens, GA 30602

A bronquite infecciosa aviária custa milhões de dólares anualmente à indústria avícola dos EUA e permanece como uma das principais prioridades das pesquisas para a avicultura comercial em todo o mundo.  A bronquite infecciosa aviária é uma doença do trato respiratório superior altamente contagiosa em frangos que é extremamente difícil de controlar devido aos diferentes tipos de vírus que causam a doença não fornecerem proteção cruzada.  Os diferentes tipos de vírus da bronquite infecciosa (IBV) incluem múltiplos sorotipos e variantes do vírus que emergem devido a mutações genéticas e eventos de recombinação entre as diferentes cepas do vírus durante a replicação e adaptação ao hospedeiro.

A melhor estratégia para o controle desta doença é o uso de vacinas com vírus atenuados (não-patogênicos). Tipicamente os vírus atenuados são desenvolvidos pela passagem do vírus em ovos embrionados.  Conforme o vírus se adapta para crescer nos ovos, perde sua capacidade de causar doença em frangos e pode, assim, ser desenvolvido em vacinas seguras e eficazes.  Entretanto, devido aos diferentes típos de vírus não oferecerem proteção cruzada, as vacinas precisam ser produzidas contra vários tipos de vírus.

Escolher o tipo correto de vacina é extremamente importante para uma proteção plena contra ao IBV.  Os tipos de vírus vacinais comumente usados nos Estados Unidos são Ark-DPI, Conn, DE072, GA98 e Mass41.  Tomar decisões esclarecidas em relação ao tipo de vacina a ser usado em um determinado lote de frangos depende das informações obtidas a partir do monitoramento constante dos diferentes tipos de IBV que circulam no campo.  Anteriormente publicamos dados provenientes de 11 anos de isolamento e identificação do IBV coletados nos EUA desde julho de 1994 a dezembro de 2004 (Avian Dis. 49: 614-618, 2005).  Naquele estudo, examinamos um total de 1.511 isolados de IBV e, sem surpresa, verificamos que o vírus continua a evoluir e a causar surtos da doença.

Diversidade genética no Vírus da Bronquite Infecciosa

O vírus da bronquite infecciosa, como ocorre com outros RNA-vírus, tem uma taxa de mutação extremamente alta devido ao fato da RNA-polimerase RNA-dependente, a enzima que copia o genoma viral durante a replicação, não ter capacidade de revisar erros. Dessa forma, quando ocorre um erro na copiagem do genoma, a enzima não pode retornar e corrigí-lo.  Esta alta taxa de mutação cria uma população diversificada de partículas virais que permite ao IBV adaptar-se rapidamente às pressões de seleção, tais como as respostas imunes do hospedeiro (anticorpos e células T).  Vemos essa adaptação como variantes virais ou novos sorotipos emergentes do vírus.

Os sorotipos mais comuns do IBV nos EUA são Arkansas, Connecticut, Delaware e Massachusetts.  Entretanto, quando esses tipos do IBV sofrem alterações, também chamadas de flutuações genéticas, essas podem resultar em considerável variação distante do sorotipo original.  Os vírus do tipo Arkansas parece ser bem susceptível à flutuação genética, resultando em vírus designados como “Arkansas-like” (similar a Arkansas).  Se a quantidade de alteração genética, que pode ser acumular ao longo do tempo, atinge um ponto crítico, a capa vacinal Arkansas (Ark-DPI) pode não mais proporcionar proteção plena contra os vírus Arkansas-like.

Além da flutuação genética, a troca genética pode levar a uma dramática alteração que resulta em uma variante única do vírus. Essas variantes do vírus são definidas como tipos previamente não reconhecidos do IBV que são claramente diferentes dos sorotipos conhecidos de IBV.  A troca genética usualmente resulta de uma recombinação entre dois diferentes vírus progenitores (que infectam a mesma célula) produzindo uma progênie distinta do vírus.  Os eventos de recombinação ocorrem através de um mecanismo de troca de moldes ao longo das regiões conservadas do genoma viral entre dois vírus diferentes.  O vírus resultante é um híbrido dos dois vírus progenitores que, sob as circunstâncias corretas, podem sobrepujar a imunidade induzida pelos tipos comuns de vacinas.

Variantes Arkansas do Vírus da Bronquite Infecciosa

Nossos dados de 2005 e 2006 nos EUA mostram que os vírus Arkansas continuam a evoluir para produzir vírus Ark-like, que são comumente isolados em aves de corte e poedeiras.  Entretanto, parece que a vacinação plena com vacinas do tipo Arkansas (ver Mildvac Ark) continua a proteger contra os vírus. Também verificamos que a cepa Ark-DPI foi e ainda é o tipo mais frequentemente identificado de IBV no campo.  Uma vez que a cepa é usada na vacina Arkansas, não ficou claro na época se os isolados Ark-DPI eram vírus do campo ou das vacinas.

Dados recentes (Jackwood et al. Avian Dis. 53:175-183, 2009) indicam que o isolados Ark-DPI são, de fato, vírus vacinais persistindo nos lotes vacinados.  Não está claro por que razão apenas os vírus da vacina Arkansas estavam persistindo nos lotes, uma vez que outros tipos de vacinas contra IBV também foram aplicados nas aves. Novas pesquisas estão sendo conduzidas para responder a esta questão e fornecer um mecanismo possível para a persistência das vacinas Ark-DPI nos frangos de corte nos EUA.  Este trabalho é extremamente importante porque, quanto mais tempo o IBV persistir no campo, maior será a oportunidade de sofrer flutuação e troca genética, resultando em novas variantes do vírus.

Variante GA98 do Vírus da Bronquite Infecciosa

Em 1998, foi identificada uma variante do vírus IBV como causa de um surto grave e disseminado da doença, que foi denominada GA98. A caracterização molecular e sorotípica do vírus mostrou que ele estava relacionado à cepa Delaware do IBV.  Entretanto, as vacinas atualmente disponíveis não estavam fornecendo proteção adequada contra a nova variante do vírus, assim uma nova vacina, a MILDVAC-GA-98, foi desenvolvida pela Merck Animal Health. Como uma proteção adicional, verificou-se que a MILDVAC-GA-98 também proporcionava boa proteção contra as cepas do tipo Delaware. O uso desta vacina levou ao controle dessa cepa danosa do IBV.

Variantes California do Vírus da Bronquite Infecciosa

Variantes virais geograficamente restritas têm sido relatadas na Califórnia desde 1975.  Os achados recentes em nosso laboratório (Jackwood et al. Avian Dis. 51:527-533, 2007) indicam que cepas variantes únicas continuam a surgir e causar doença nos frangos da Califórnia.  Nos anos 90, uma variante California (CAV) do vírus foi isolada e identificada.  Aquele vírus foi significativamente diferente das cepas vacinais disponíveis e causou doença disseminada em aves de corte e reprodutoras.  Os vírus variantes CAL99 foram isolados em 1999 e surgiram como um grupo genético e sorotípico distinto dos isolados CAV. Além disso, 3 novas variantes virais (CA557/03, CA706/03 e CA1737/04) isoladas em 2003 e 2004 parecem se encaixar em grupos moleculares e sorotípicos diferentes e únicos.  Infelizmente nenhuma das vacinas atualmente disponíveis é eficaz contra qualquer vírus das variantes California.  Até recentemente, os vírus variantes California 2003-2004 pareciam estar geograficamente restritos como os outros vírus variantes California; entretanto, uma variante viral recentemente identificada na Georgia tem ligações genéticas com os vírus California.

Variante GA08 do Vírus da Bronquite Infecciosa

Em 2007-2008, um surto de bronquite em aves de corte na Georgia do Norte, EUA, levou à identificação de um novo IBV denominado GA08. O vírus GA08 era geneticamente similar ao vírus CA557/03.  O vírus rapidamente se disseminou pela Georgia e estados vizinhos no sudeste dos EUA.  Nenhuma das vacinas comercialmente disponíveis nos EUA, sozinha ou em combinação, demonstrou ser eficaz contra esse novo vírus.  Uma companhia comercial está atualmente usando uma vacina autógena viva atenuada e providências estão sendo tomadas pelas empresas biológicas para produzir uma vacina contra este novo tipo de IBV.

Resumo

Tipos variantes do IBV estão constantemente surgindo e circulando no campo, e surtos da doença associados com as variantes virais continuam a ocorrer.  O monitoramento constante dos tipos de IBV é extremamente importante porque nos permite acompanhar as alterações em sua incidência e distribuição, e a identificar e controlar novas variantes problemáticas à medida que surgem.

Vacinas

Tomar decisões esclarecidas em relação ao tipo de vacina depende das informações obtidas a partir do monitoramento constante dos diferentes tipos de IBV que circulam no campo.